Começa a surgir uma nova era no capitalismo: o coop-capitalismo, uma forma mais cooperativa de encarar o mundo. Pelo menos é o que diz Noreena Hertz, uma das maiores teóricas desse assunto. Ela é uma influente economista inglesa, que preconiza urna mudança no pensamento econômico, depois da última crise financeira: o início de uma nova era econômico-política com uma cara mais humana. Uma mudança demorada, mas irreversível.
Noreena já foi consultora de muitos governos e hoje dirige o Centro para Negócios Internacionais da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Nos seus estudos, ela mistura economia, sociologia, antropologia e ciências comportamentais.
Já publicou vários livros, entre os quais A conquista silenciosa, onde criticava os superpoderes das multinacionais e O planeta em débito, onde defendia uma reforma no Banco Mundial e FMI e previa a crise que aconteceu.
“Até agora, os acionistas eram os reis, os banqueiros recebiam salários 100 vezes maiores daqueles trabalhadores normais e havia uma crença quase religiosa na capacidade do mercado de ser um eficiente mecanismo de distribuição e de liberdade”, diz essa economista que é ouvida por muitas autoridades mundiais de várias áreas: de Bill Clinton a Bono Vox, da banda U2. Num de seus livros, ela cita que, entre as 100 maiores economias do mundo, 51 são multinacionais e só 49 são países.
Ela diz que existem condições para uma nova forma de capitalismo, o coop-capitalismo, que escolheu valores como a cooperação, colaboração e coordenação, onde o individualismo desenfreado vai ficando para trás.
Noreena Hertz tenta justificar esse otimismo com o que chama de fatores-chave para sua avaliação: a velha ideologia ficou desacreditada no plano intelectual. Economistas como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e ela mesma, que eram alternativos até a década passada, hoje estão em alta. “Talvez porque sempre entendemos os limites da economia”.
Outra razão que ela aponta, é que “agora os governos têm um mandato para intervir, coisa que não puderam fazer por 30 anos”.
Ela ainda aponta dois setores que deverão vir a público dar muitas explicações: o de fast food e a indústria farmacêutica: “Haverá muita pressão para que assumam a responsabilidade pela obesidade e pelos custos dos remédios”.
E o último motivo que usa para justificar suas ideias é que está surgindo uma nova relação de forças geopolíticas, com o crescimento da China, Brasil, Índia e o reforço do G-20. “Um mundo interconectado tem necessidade de soluções interconectadas”, afirma ela. “Existirão mais soluções comuns. É provável que sejam feitos mais acordos e pactos globais”.
Um dos aspectos dessa nova visão está na atenção aos valores humanos. Os recentes estudos sobre a economia comportamental mostraram que a boa vontade é intrínseca à natureza humana, mais do que o individualismo. “Estamos entrando em uma era na qual se unem as forças, e todas vão na mesma direção”.
Sinais de tudo isso estão por toda parte. Na área de tecnologia da informação, surgem muitos exemplos: sites colaborativos, conhecimentos compartilhados, dicionários abertos e gratuitos, como o Wikipédia, job-charings, trocas de produtos em vez de vendas, social network, open source como Linux, design aberto, empresas que soltam problemas na rede e pagam pelas ideias que surgirem. Enfim, muita coisa está se mexendo nessa área de mais colaboração.
Segunda Noreena, o coop-capitalismo é a tradução político-econômica do “yes we can” de Barack Obama. Uma visão multiplayer do capitalismo, que encoraja todas as partes a trabalharem juntas para atingir o bem comum.
Por fim, ela defende o lado feminino: quer cotas para mulheres chegarem ao topo das grandes empresas. Amparadas em leis, como existem na Espanha e Noruega. Ela diz que esta última crise financeira foi uma crise masculina. “As mulheres não tiveram nenhuma participação”.
Fonte: Zero Hora, 24/07/11, página 12. Por Alfredo Fedrizzi.
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