Antigamente o homem tinha a impressão de que os recursos da natureza eram infinitos. Por exemplo, o caçador de mamutes via tantos deles e só conseguia capturar um ou outro, entendendo assim que seu número era infindável. A noção de que a natureza é infinita mudou a partir do momento em que o homem, dominando a técnica, fabricou máquinas capazes de, em poucos dias, destruir uma floresta; ou, indo a extremos, acabar , com o mundo em minutos, caso resolva experimentar algumas de suas bombas atômicas.
Sabemos agora que os recursos materiais da Terra têm fim e que, se a agressão ao meio ambiente continuar, em poucos anos o planeta não será capaz de assimilar tanta "pancada". E tudo indica que, para resolver o problema da sobrevivência do homem, é preciso mudar as formas de exploração da própria natureza que o alimenta - de tudo: ar, água, matéria-prima, tudo.
A Terra é frágil. Melhor, ficou frágil. Antigamente, quando caçava mamutes, o homem , tinha medo da natureza: raios e trovões, inundações, rios e mares enormes, frio e calor. O homem não conhecia a natureza. A medida que a foi conhecendo, também a foi aniquilando, a tal ponto que a situação se inverteu: hoje, ele tem medo da própria delicadeza da Terra, enfraquecida diante de sua hostilidade, com os mecanismos naturais de auto-regeneração destruídos pela rapacidade* desmedida. Declaramos guerra à natureza e somos os perdedores ao vencê-la. Se a tratássemos com amor, ela poderia ser infinita, desde que não fosse saqueada ao extremo de sua resistência e capacidade regenerativa.
Para reverter o quadro, é preciso uma luta que ainda carece de estratégia global. Porque os que pensam a favor da Terra não têm poder além da palavra. Seus assassinos continuam matando-a impunemente e, ainda, controlando os meios de comunicação. Lênin deveria ser lembrado, inclusive pelos que se dizem marxista-Leninistas ou coisa que o valha: "Os próprios humanos que não levam em conta as leis essenciais da natureza só podem ocasionar calamidades".
Maior calamidade do que a de hoje, só a reta final da destruição do mundo.
(...) Até hoje a história dos homens foi contada em separado da história da natureza. Fruto, naturalmente, do desprezo ocidental pelos valores ecológicos, o ter suplantou o ser, ajudando o processo de embrutecimento da humanidade. Mas a história do homem não se separa da história da natureza.
(...) Vale observar, nesse aspecto, que o desequilíbrio ecológico é o reflexo do atual estado social do mundo. Um mundo harmônico refletiria um equilíbrio entre a justiça e a igualdade. A desarmonia vive do desequilíbrio, injustiça, competição, que geram o desajuste na corrida do lucro. Não é por acaso que o homem, ao desarmonizar a natureza, reproduz com esse crime a própria injustiça a que submete milhões de semelhantes. Reverter esse quadro e aproveitar a terra sem maculá-Ia*. Como?, eis a pergunta. Não é uma resposta, mas Marx já disse: "O trabalho é o pai da riqueza; a terra, a mãe".
(Júlio José Chiavenato, o massacre da natureza, Moderna.)
Rapacidade: tendência para o roubo.
Macular: manchar, sujar.
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